CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA
E SÓCIO-ECONÔMICA
ELEMENTOS HISTÓRICOS
Na
primeira metade do século XVII, ocorreu a ocupação portuguesa das
terras do litoral e primeiro planalto paranaense. Os portugueses
estabeleceram-se aqui com os objetivos principais de escravizar indígenas
e encontras metais preciosos (BALHANA et
alli, 1969). O atual
Estado do Paraná incluía-se então nas Capitanias de São Vicente e de
Santo Amaro, quando depois de constituir uma capitania quase autônoma (de
Paranaguá) sob o domínio de Gabriel de Lara passou
a fazer parte da Capitania de São Paulo, em 1711 (FIGUEIREDO,
1954).
Os
ameríndios carijós ocupavam o litoral paranaense e o sul do Brasil antes
da colonização, dominando então desde o litoral de Cananéia em São
Paulo até a Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul. Os numerosos Sambaquis
existentes na ilhas de nosso litoral representam restos da antiga
civilização carijó, que habitava locais próximos aos mangues e
enseadas, pela existência de muitos peixes, ostras, mariscos e outros
alimentos (MARTINS, 1939).
Os
principais fatos históricos relacionados à Ilha do Mel são a construção
da Fortaleza de Nossa Sra. dos Prazeres, o incidente "Cormorant"
e a construção do Farol de Conchas. A partir de 1718, corsários
franceses e outros navios
estrangeiros invadiam a
Barra de Paranaguá em busca de descanso, riquezas e contato com os índios.
Desta maneira, os portugueses decidiram construir uma fortaleza para
resguardar a Baía de Paranaguá dos ataques forasteiros.
Assim, foi encarregado o Coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza
para a construção do forte na Ilha. Foi então determinando o local, na base do Morro da Baleia e sua planta estratégica.
O
governo português destinou quatrocentos mil réis para a obra, que foram
somados à importância de duzentos mil réis provenientes da arrecadação
da Câmara de Paranaguá. A Obra foi concluída em 1769, ocorrendo também
a construção de uma capela, tendo como padroeira Nossa Sra. dos Prazeres
(MARTINS, 1939).
O
incidente "Cormorant" será
descrito com base no trabalho de CARNEIRO (1950). Este ocorreu na época
em que a Fortaleza encontrava-se sob o comando do Capitão Joaquim
Ferreira Barbosa; na ocasião, o forte estava sem guarnição de guerra e
armamentos. O Brasil tinha firmado um acordo com a Grã-Bretanha,
autorizando esta a apreender navios negreiros que navegassem pela costa
brasileira.
Por
volta de 1850, o navio inglês Cormorant navegava pelo litoral paranaense,
comandado pelo capitão Herbert Schoemberg. O oficial inglês atraiu um
pescador parnanguara para o navio, utilizando-se deste para transpor a
Barra de Paranaguá. Já no porto, desembarcou tropa que apossou-se de
algumas embarcações de comércio
que ali se encontravam. Quando questionado pelas autoridades aduaneiras, o
comandante inglês afirmou que estava somente cumprindo ordens, não tendo
mais explicações a prestar. Enviou um ofício ao Comandante do Forte de
Paranaguá, que não foi recebido por nenhuma autoridade no porto.
A
população, indignada com o fato, dirigiu apelos às autoridades locais,
e alguns homens uniram-se às tripulações e comandantes dos barcos
aprisionados, levando para o Capitão Barbosa tudo o que fosse necessário
para colocar os canhões em ação. Assim, entre 29 de junho a 1º de
julho de 1850 estes homens
trabalharam dia e noite para recolocar os canhões nas munhoneiras e deixá-los
prontos para atirar, se preciso.
Antes
de zarpar do porto de Paranaguá, o oficial inglês recebeu um ofício do
Juiz de Direito da Comarca, em protesto contra o ato, qualificado como
"tão atentatório como os que ficam apontados contra a soberania e
dignidade de sua Nação"; o juiz mandou ainda outro ofício para o
Comandante do Forte (Capitão Barbosa), dizendo-lhe para que fizesse o
possível para impedir a saída dos barcos aprisionados pelo navio inglês.
Quando o navio aproximou-se da barra da Fortaleza, foi enviada uma embarcação
com uma intimação do Capitão Barbosa, que foi recebida a tiro de pólvora.
Então, com um tiro de pólvora seca e outro de bala fez a advertência
militar, recebida com bombas de calibre oitenta e balas de calibre 36 para
cima. Travou-se então o duelo, onde foram atingidos dois barcos
comboiados e o navio Cormorant, que ficou com sua caixa de rodas
danificada. Um marinheiro inglês morreu e outro ficou ferido. Apesar dos
danos causados à Fortaleza, nenhum brasileiro ficou ferido. Após
conversações e esclarecimentos, a questão ficou resolvida.
Para
a construção do Farol de Conchas, foram importadas peças da Inglaterra,
desembarcadas em trapiche montado
na Praia de Conchas. O Farol é constituído por torre inteiramente de
ferro, possuindo altura de aproximadamente 18m. Funciona desde 25 de março
de 1872 (MARTINS, 1939; FIGUEIREDO, 1954).
ASPECTOS SOCIAIS
Por
volta do ano de 1649, a população da região de Paranaguá era escassa;
apenas noventa e cinco habitantes somavam o número de votantes que
constituíram a administração da Vila (FIGUEIREDO, 1954). Alguns destes primeiros habitantes de Paranaguá teriam ido residir na Ilha
do Mel. A população das Ilhas do litoral paranaense possui em geral tipo
mameluco, com biotipo característico que lembra tanto os ancestrais carijós,
como a miscigenação com a raça branca (MARTINS, 1939).
Em
1950 foi realizado um censo na Ilha que acusou cerca de 513 habitantes,
com um equilíbrio entre homens e mulheres, porém com um número muito
maior de adultos sobre jovens e crianças. Obteve-se na época os
seguintes dados: 185 moradores na Ponta da Ilha e adjacências, 125 na
Fortaleza, 59 no povoado de Conchas e 144 nas Prainhas (FIGUEIREDO, 1954).
O
censo de 1980 realizado pelo IBGE acusou um total de 627 moradores, sendo
343 homens e 284 mulheres. Observa-se que o número de jovens é maior do
que o de adultos, existindo 213 moradores com idade de 10 a 24 anos. Ainda
em 80, existiam 306 casas na Ilha, sendo 125 de moradores permanentes e
153 de uso ocasional, entre outras.
O nº de pessoas alfabetizadas era de 276 moradores (165 homens e
111 mulheres).
De
acordo com o censo demográfico de 1991, há 515 moradores na Ilha, sendo
289 homens e 226 mulheres; o nº de casas aumentou para 478, sendo 141
residências ocupadas, 318 de uso ocasional, 14 pousadas e 1 hotel
(IBGE, 1980; 1991).
A
principal atividade realizada ainda é a pesca, paralelamente ao turismo,
e o pescado é o principal
alimento da população. Os peixes mais freqüentes são o Parati, a
Pescada branca, o Badejo, o Sargo, a Tanhota e a Tainha na época de
inverno. A pesca do camarão é também muito freqüente, sendo o sete
barbas o mais comum. Os pescados são vendidos em Paranaguá e utilizados
para a subsistência dos moradores. A alimentação constitui-se
basicamente por peixe, farinha, arroz e feijão. Existem três mercadinhos
para a venda de gêneros alimentícios na Vila de Brasília, uma frutaria
na Vila do Farol e um mercado nas Encantadas. Os alimentos são geralmente
mais caros do que no continente, em virtude da necessidade de transporte.
Alimentos perecíveis, como frutas e verduras são mais difíceis de serem
comprados na Ilha.
Em
função dos solos arenosos e pobres em nutrientes existentes na Ilha,
poucas plantas são cultivadas para a alimentação de subsistência dos
habitantes. Dentre estas destacam-se a mandioca, o mamão, o limão, a
goiaba, a pimenta, a banana, a cana-de-açúcar e o milho. Entre as
plantas nativas utilizadas para alimentação pode-se citar a camarinha (Gaylussacia
brasiliensis), com frutos pretos pequenos muito doces, o araçá (Psidium
catleianum), o bacupari (Rheedia
gardneriana) e o ananás-do-mato (Ananas
bracteatus), além do palmito (Euterpe
edulis), atualmente em processo de desaparecimento pela exploração
seletiva que vem ocorrendo em todo o litoral do estado.
Nos
meses de dezembro, janeiro e fevereiro, há um grande aporte de turistas
na Ilha, podendo chegar a um fluxo de 70.000 pessoas (dados fornecidos
pela Polícia Florestal). Assim, no verão a principal atividade econômica
é o turismo. As pousadas, mini-campings e restaurantes ficam lotados na
época de temporada.
Existem
algumas pessoas de fora que estabeleceram-se na Ilha para o
desenvolvimento do comércio, com a construção de bares, restaurantes e
pousadas. O serviço de transporte de barcos representa também uma
importante atividade econômica na
Ilha, gerando empregos para muitos moradores. Atualmente uma passagem de
barco Pontal do Sul-Ilha do Mel custa aproximadamente R$ 4.00. Outra prestação
de serviço ativada no verão é o transporte de bagagens dos turistas
através de carrinhos de mão para os diferentes pontos da Ilha. Muitos
jovens trabalham nesta atividade. Algumas mulheres fazem pão, sonho e
pastéis para a venda, bem como servem café da manhã para os turistas.
A
religião predominante é a Evangélica, com reuniões semanais para a
realização dos cultos.
Quanto
ao lazer, a principal atividade esportiva é o futebol na areia, existindo
dois campos principais, um na Vila
de Brasília e outro nas Encantadas. As crianças brincam
principalmente de bete, pega-pega e esconde-esconde. Os Bingos são
realizados com freqüência, onde várias pessoas da comunidade contribuem
com prendas e brindes, desde alimentos até roupas e brinquedos. O
dinheiro arrecadado, controlado pela Associação de Moradores da Vila
Nova Brasília volta para a comunidade sbo a forma de ações sociais. Nos
meses de junho e julho são realizadas festas comunitárias.
Pesquisa realizada e cedida por
Simone
Ferreira de Athayde - Departamento
de Botânica - UFPR
Todos os
Direitos Reservados © 2000 Simone Ferreira de Athayde |