HISTORIA DA ILHA DO MEL

                 No início do Séc. XVII, Heliodoro Ébano Pereira funda as povoações de Paranaguá e de Curitiba, primeiros núcleos de povoação do Paraná, subordinados à Capitania de São Paulo. Na metade do século seguinte, iniciada a ocupação da região sul, o Tenente-Coronel Cândido Xavier de Almeida e Souza alcança os Campos de Guarapuava (1770), fundando a povoação de Guarapuava e erigindo o Forte de N. Sra. do Carmo, de taipa, para a proteção do núcleo. Em 1853, já sob o Segundo Reinado no Brasil, o território do Paraná é desmembrado do de São Paulo, e elevado à categoria de Província.

  Fortaleza de N. Sra. dos Prazeres (ou Fortaleza da Barra)

   A Fortaleza foi construída de 1767 a 1769 pelo tenente-coronel Afonso Botelho, de acordo com ordens recebidas do Marquês de Pombal pelo Capitão-General D. Luiz Antônio de Souza, então governador da Capitania de São Paulo.  

Vista do Forte e do Morro da Baleia

  Situada no Morro da Baleia, dominava o canal de entrada da Baía de Paranaguá, e contava originalmente com duas peças de artilharia de calibre 24, duas de 18 e duas de 12 que foram desarmadas em 1800. Durante o primeiro império, foi novamente re-armada com doze peças de calibre 18 e devidamente guarnecida em 1825. Durante a regência, em 1831 é novamente desarmada, para ser rearmada e guarnecida em 1850, quando enfrenta a fragata inglesa "Cormoran" em 01 de julho de 1850 que aprisionara navios brasileiros no porto de Paranaguá, sob a acusação de tráfico negreiro. O então comandante da fortaleza, Capitão Joaquim Ferreira Barbosa, dando ordem de fogo as baterias, atingiu a fragata, obrigando-a a procurar refúgio na Enseada das Conchas.

  em 1909. Foi posta fora de serviço em 1954.  

Vista do alto do Morro da Baleia em 1944 - Foto: Dr. Francisco Jusi Neto

   Em 1938 foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e recentemente passou por restauração afim de receber visitantes e pesquisadores.

 

CARACTERIZAÇÃO  HISTÓRICA E SÓCIO-ECONÔMICA 

 

        ELEMENTOS  HISTÓRICOS

Na primeira metade do século XVII, ocorreu a ocupação portuguesa das terras do litoral e primeiro planalto paranaense. Os portugueses estabeleceram-se aqui com os objetivos principais de escravizar indígenas e encontras metais preciosos (BALHANA et alli, 1969).  O atual Estado do Paraná incluía-se então nas Capitanias de São Vicente e de Santo Amaro, quando depois de constituir uma capitania quase autônoma (de Paranaguá) sob o domínio de Gabriel de Lara passou  a fazer parte da Capitania de São Paulo, em 1711 (FIGUEIREDO, 1954).

Os ameríndios carijós ocupavam o litoral paranaense e o sul do Brasil antes da colonização, dominando então desde o litoral de Cananéia em São Paulo até a Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul. Os numerosos Sambaquis  existentes na ilhas de nosso litoral representam restos da antiga civilização carijó, que habitava locais próximos aos mangues e enseadas, pela existência de muitos peixes, ostras, mariscos e outros alimentos (MARTINS, 1939).    

Os principais fatos históricos relacionados à Ilha do Mel são a construção da Fortaleza de Nossa Sra. dos Prazeres, o incidente "Cormorant" e a construção do Farol de Conchas. A partir de 1718, corsários franceses e outros  navios estrangeiros   invadiam a Barra de Paranaguá em busca de descanso, riquezas e contato com os índios. Desta maneira, os portugueses decidiram construir uma fortaleza para resguardar a Baía de Paranaguá dos ataques forasteiros.  Assim, foi encarregado o Coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza para a construção do forte na Ilha. Foi então determinando  o local, na base do Morro da Baleia e sua planta estratégica.

O governo português destinou quatrocentos mil réis para a obra, que foram somados à importância de duzentos mil réis provenientes da arrecadação da Câmara de Paranaguá. A Obra foi concluída em 1769, ocorrendo também a construção de uma capela, tendo como padroeira Nossa Sra. dos Prazeres (MARTINS, 1939).

O incidente "Cormorant"  será descrito com base no trabalho de CARNEIRO (1950). Este ocorreu na época em que a Fortaleza encontrava-se sob o comando do Capitão Joaquim Ferreira Barbosa; na ocasião, o forte estava sem guarnição de guerra e armamentos. O Brasil tinha firmado um acordo com a Grã-Bretanha, autorizando esta a apreender navios negreiros que navegassem pela costa brasileira.

Por volta de 1850, o navio inglês Cormorant navegava pelo litoral paranaense, comandado pelo capitão Herbert Schoemberg. O oficial inglês atraiu um pescador parnanguara para o navio, utilizando-se deste para transpor a Barra de Paranaguá. Já no porto, desembarcou tropa que apossou-se de algumas embarcações  de comércio que ali se encontravam. Quando questionado pelas autoridades aduaneiras, o comandante inglês afirmou que estava somente cumprindo ordens, não tendo mais explicações a prestar. Enviou um ofício ao Comandante do Forte de Paranaguá, que não foi recebido por nenhuma autoridade no porto.

A população, indignada com o fato, dirigiu apelos às autoridades locais, e alguns homens uniram-se às tripulações e comandantes dos barcos aprisionados, levando para o Capitão Barbosa tudo o que fosse necessário para colocar os canhões em ação. Assim, entre 29 de junho a 1º de julho de 1850  estes homens trabalharam dia e noite para recolocar os canhões nas munhoneiras e deixá-los prontos para atirar, se preciso.

Antes de zarpar do porto de Paranaguá, o oficial inglês recebeu um ofício do Juiz de Direito da Comarca, em protesto contra o ato, qualificado como "tão atentatório como os que ficam apontados contra a soberania e dignidade de sua Nação"; o juiz mandou ainda outro ofício para o Comandante do Forte (Capitão Barbosa), dizendo-lhe para que fizesse o possível para impedir a saída dos barcos aprisionados pelo navio inglês. Quando o navio aproximou-se da barra da Fortaleza, foi enviada uma embarcação com uma intimação do Capitão Barbosa, que foi recebida a tiro de pólvora. Então, com um tiro de pólvora seca e outro de bala fez a advertência militar, recebida com bombas de calibre oitenta e balas de calibre 36 para cima. Travou-se então o duelo, onde foram atingidos dois barcos comboiados e o navio Cormorant, que ficou com sua caixa de rodas danificada. Um marinheiro inglês morreu e outro ficou ferido. Apesar dos danos causados à Fortaleza, nenhum brasileiro ficou ferido. Após conversações e esclarecimentos, a questão ficou resolvida.

Para a construção do Farol de Conchas, foram importadas peças da Inglaterra, desembarcadas em trapiche  montado na Praia de Conchas. O Farol é constituído por torre inteiramente de ferro, possuindo altura de aproximadamente 18m. Funciona desde 25 de março de 1872 (MARTINS, 1939; FIGUEIREDO, 1954). 

    

        ASPECTOS SOCIAIS

Por volta do ano de 1649, a população da região de Paranaguá era escassa; apenas noventa e cinco habitantes somavam o número de votantes que constituíram a administração da Vila  (FIGUEIREDO, 1954). Alguns destes  primeiros habitantes de Paranaguá teriam ido residir na Ilha do Mel. A população das Ilhas do litoral paranaense possui em geral tipo mameluco, com biotipo característico que lembra tanto os ancestrais carijós, como a miscigenação com a raça branca (MARTINS, 1939).

Em 1950 foi realizado um censo na Ilha que acusou cerca de 513 habitantes, com um equilíbrio entre homens e mulheres, porém com um número muito maior de adultos sobre jovens e crianças. Obteve-se na época os seguintes dados: 185 moradores na Ponta da Ilha e adjacências, 125 na Fortaleza, 59 no povoado de Conchas e 144 nas Prainhas (FIGUEIREDO, 1954).

O censo de 1980 realizado pelo IBGE acusou um total de 627 moradores, sendo 343 homens e 284 mulheres. Observa-se que o número de jovens é maior do que o de adultos, existindo 213 moradores com idade de 10 a 24 anos. Ainda em 80, existiam 306 casas na Ilha, sendo 125 de moradores permanentes e 153 de uso ocasional, entre outras.   O nº de pessoas alfabetizadas era de 276 moradores (165 homens e 111 mulheres).

De acordo com o censo demográfico de 1991, há 515 moradores na Ilha, sendo 289 homens e 226 mulheres; o nº de casas aumentou para 478, sendo 141  residências ocupadas, 318 de uso ocasional, 14 pousadas e 1 hotel (IBGE, 1980; 1991).

A principal atividade realizada ainda é a pesca, paralelamente ao turismo,  e o pescado é o  principal alimento da população. Os peixes mais freqüentes são o Parati, a Pescada branca, o Badejo, o Sargo, a Tanhota e a Tainha na época de inverno. A pesca do camarão é também muito freqüente, sendo o sete barbas o mais comum. Os pescados são vendidos em Paranaguá e utilizados para a subsistência dos moradores. A alimentação constitui-se basicamente por peixe, farinha, arroz e feijão. Existem três mercadinhos para a venda de gêneros alimentícios na Vila de Brasília, uma frutaria na Vila do Farol e um mercado nas Encantadas. Os alimentos são geralmente mais caros do que no continente, em virtude da necessidade de transporte. Alimentos perecíveis, como frutas e verduras são mais difíceis de serem comprados na Ilha.

Em função dos solos arenosos e pobres em nutrientes existentes na Ilha, poucas plantas são cultivadas para a alimentação de subsistência dos habitantes. Dentre estas destacam-se a mandioca, o mamão, o limão, a goiaba, a pimenta, a banana, a cana-de-açúcar e o milho. Entre as plantas nativas utilizadas para alimentação pode-se citar a camarinha (Gaylussacia brasiliensis), com frutos pretos pequenos muito doces, o araçá (Psidium catleianum), o bacupari (Rheedia gardneriana) e o ananás-do-mato (Ananas bracteatus), além do palmito (Euterpe edulis), atualmente em processo de desaparecimento pela exploração seletiva que vem ocorrendo em todo o litoral do estado.

Nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, há um grande aporte de turistas na Ilha, podendo chegar a um fluxo de 70.000 pessoas (dados fornecidos pela Polícia Florestal). Assim, no verão a principal atividade econômica é o turismo. As pousadas, mini-campings e restaurantes ficam lotados na época de temporada.

 Existem algumas pessoas de fora que estabeleceram-se na Ilha para o desenvolvimento do comércio, com a construção de bares, restaurantes e pousadas. O serviço de transporte de barcos representa também uma importante atividade econômica  na Ilha, gerando empregos para muitos moradores. Atualmente uma passagem de barco Pontal do Sul-Ilha do Mel custa aproximadamente R$ 4.00. Outra prestação de serviço ativada no verão é o transporte de bagagens dos turistas através de carrinhos de mão para os diferentes pontos da Ilha. Muitos jovens trabalham nesta atividade. Algumas mulheres fazem pão, sonho e pastéis para a venda, bem como servem café da manhã para os turistas.

A religião predominante é a Evangélica, com reuniões semanais para a realização dos cultos.

Quanto ao lazer, a principal atividade esportiva é o futebol na areia, existindo dois campos principais, um na  Vila de Brasília e outro nas Encantadas. As crianças brincam  principalmente de bete, pega-pega e esconde-esconde. Os Bingos são realizados com freqüência, onde várias pessoas da comunidade contribuem com prendas e brindes, desde alimentos até roupas e brinquedos. O dinheiro arrecadado, controlado pela Associação de Moradores da Vila Nova Brasília volta para a comunidade sbo a forma de ações sociais. Nos meses de junho e julho são realizadas festas comunitárias.     

Pesquisa realizada e cedida por Simone Ferreira de Athayde - Departamento de Botânica - UFPR

 

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